Comemos os anos com maior ou menor rapidez, consoante a fome que nos assola, caindo num apetite voraz ou numa azia que nos empalidece.
Uns são cigarros rápidos, fumados à pressa, sem necessidade, mas com a vontade que o corpo manda. Outros são descansos divinos que duram horas nas quais nos amarramos com força à espera do infinito. Por fim chegamos a uma paragem que não vimos de antemão, um fantasma que já o é antes de morrer, e pensamos nos dias das velhas festas.
Sempre quis escrever sobre horas felizes. Guardei pedaços de pano e copos partidos em caixas de cartão, empoeiradas nos armários do lar, qual lar?, empoleiradas em cima de mim, mais pesadas que os ossos que carrego e mais coloridas que as palavras que escrevo. Mereciam um livro, um gordo romance campeão de vendas que calasse a fome de alegrias e desse esperança aos putos descalços. Vejo-me forte, com esse batalhão de frases vencedoras a rubricar rabiscos e a apertar palmas suadas.
Não dá. Não sou capaz. Não por pensar que a longínqua história não é boa. Mas por sentir que é uma longínqua memória de uma outra pessoa.