terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Horas felizes

Comemos os anos com maior ou menor rapidez, consoante a fome que nos assola, caindo num apetite voraz ou numa azia que nos empalidece.
Uns são cigarros rápidos, fumados à pressa, sem necessidade, mas com a vontade que o corpo manda. Outros são descansos divinos que duram horas nas quais nos amarramos com força à espera do infinito. Por fim chegamos a uma paragem que não vimos de antemão, um fantasma que já o é antes de morrer, e pensamos nos dias das velhas festas.
Sempre quis escrever sobre horas felizes. Guardei pedaços de pano e copos partidos em caixas de cartão, empoeiradas nos armários do lar, qual lar?, empoleiradas em cima de mim, mais pesadas que os ossos que carrego e mais coloridas que as palavras que escrevo. Mereciam um livro, um gordo romance campeão de vendas que calasse a fome de alegrias e desse esperança aos putos descalços. Vejo-me forte, com esse batalhão de frases vencedoras a rubricar rabiscos e a apertar palmas suadas.
Não dá. Não sou capaz. Não por pensar que a longínqua história não é boa. Mas por sentir que é uma longínqua memória de uma outra pessoa.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O problema de eu ir dormir

É que os meus sonhos são espaços fechados sem ventilação adequada.

Sonho numa tarde de Inverno

Um dia ao passear nos Campos Elíseos entrei num café, por sinal chique e caro, sentei a mochila desajeitada, pedi um café e fumei um camel. As cadeiras viravam-se todas num sentido, cinema do mundo, enquanto o fumo se desfazia entre os dedos de uma boa conversa.
Há cigarros que não deveriam ter fim.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sem óleo na escrita queria escrever mais que uma simples receita.
Tantos sabores na parte dianteira da cabeça.
Pouco paladar na ponta dos dedos.
Gostava de escrever sim sobre coisas, sobre o canhoto que fuma com a mão direita, sobre o pobre que toca harpa e já não se endireita, sobre o destro que comia nespras nas manhãs de domingo, ou o homem do talho a morrer na partida de bingo. Gostava de rebentar e espalhar a cinza, do supermercado vazio com seu repositor, ladrando para as latas de atum, sem amor nenhum. Sem nunca esquecer a rima, anima anima, as paredes alheias vivendo a vida do vizinho
é tarde
e um dia vou acabar sozinho.

Na missa

Farto das beatas foi fumar com o padre.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Aviso

A partir de dia 1 de Janeiro de 2008 pode-se fumar aqui.
Obrigado.

O que eles disseram

Nunca soube escrever o barulho que faz um isqueiro... E no entanto aqui estou, alheado de tudo o resto, concentrado no gesto que repito, esperando que com a próxima chama que nasça, o meu espírito se ilumine.
(Um amigo há um ano atrás.)