Aos dias
- Gosto dos dias assim fechados e cheios de chuva, gosto de os ver na giratória todos trocados já a sacudirem-se, a fechar o chapéu que não fecha, a lamentarem-se do mau tempo, que no fundo é apenas um saco de boxe para todas as frustrações espremidas, uma desculpa que desculpa a vidinha de merda que se tem. Têm sempre desculpa, gosto dos lamentos, da revolta deles e da minha quietude atrás do balcão. Vem que eu finjo gostar de ti e tratar-te bem, seu classe média sem nada para sorrir, vem que eu sou uma doce mentirosa. Gosto destes dias. E tu Maria, quais são os teus dias?
- Não sei Sara – ela adora divagar, hoje não quero. A hora é aquela que não vem ninguém, é a meia hora, entre horas de quartos, de entradas e saídas, de obrigados e voltem sempre. Assim ficamos aqui as duas. Ela não se cala, sempre a falar mais longe do que eu espero. Mas gosto dela, vejo-me na fúria de algumas palavras, e tenho sede do seu ar promíscuo, daquele botão desabotoado e dos brincos e piercings que forram a orelha esquerda.
- Vá lá Maria, tens de ter algum dia assim, que encha as medidas!
Por acaso tenho. E lá vou eu divagar ou navegar, sem rumo acho eu.Tu és instável Maria.
- Gosto daqueles dias em que o Sol nasce entreaberto, rasgos laranjas que se descobrem aos poucos. Cheira a terra molhada. Todos os caminhos que fazes são os caminhos mais longos, que já nem sabias existir, que alguém deixou ali de propósito, para os dias assim. Podes parar, e se parares, se tu parares, ouves o longo reinado do silêncio. Saboreias e segues caminho. Bebes algo quente e sorris a um estranho, o dia continua guloso, todas as paredes são tocadas como se o tacto fosse novo. Tudo é de propósito, é só mais um dia. Segues no que mais demora e chegas a casa. Embrulhas-te, e vês pela janela o sol cair, meio tosco e sujo. Depois adormeces contigo só...Tenho saudades desses dias...Dos dias assim...
- Não sei Sara – ela adora divagar, hoje não quero. A hora é aquela que não vem ninguém, é a meia hora, entre horas de quartos, de entradas e saídas, de obrigados e voltem sempre. Assim ficamos aqui as duas. Ela não se cala, sempre a falar mais longe do que eu espero. Mas gosto dela, vejo-me na fúria de algumas palavras, e tenho sede do seu ar promíscuo, daquele botão desabotoado e dos brincos e piercings que forram a orelha esquerda.
- Vá lá Maria, tens de ter algum dia assim, que encha as medidas!
Por acaso tenho. E lá vou eu divagar ou navegar, sem rumo acho eu.Tu és instável Maria.
- Gosto daqueles dias em que o Sol nasce entreaberto, rasgos laranjas que se descobrem aos poucos. Cheira a terra molhada. Todos os caminhos que fazes são os caminhos mais longos, que já nem sabias existir, que alguém deixou ali de propósito, para os dias assim. Podes parar, e se parares, se tu parares, ouves o longo reinado do silêncio. Saboreias e segues caminho. Bebes algo quente e sorris a um estranho, o dia continua guloso, todas as paredes são tocadas como se o tacto fosse novo. Tudo é de propósito, é só mais um dia. Segues no que mais demora e chegas a casa. Embrulhas-te, e vês pela janela o sol cair, meio tosco e sujo. Depois adormeces contigo só...Tenho saudades desses dias...Dos dias assim...
Olha para mim calada. Entra alguém aos empurrões, como se a chuva mordesse e não beijasse, irritado com o vidro. A Sara chama-lhe estúpido. Eu sorrio.
2 comentários:
só para te provar que vim cá relamente ler... jokas ;p
só para te provar que vim cá realmente deixar um comentário...
mas não li.
;p
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