Uma corrente líquida entope as saídas e entradas, engasga a agonia, as vezes contadas até cessar. As mãos no rebordo sujo da sanita e os ombros desistentes a acompanhar as vagas do interior. Tem lágrimas nos olhos, pensa que já parou e vem mais um, agora seco e vazio. Esgotou os recursos, encosta-se na parede, uma mão no chão e outra na cabeça voltada para fora, a tentar com que os pensamentos se fixem. O fim deve ser muito parecido com isto, sempre imaginou que estar quase a morrer seria uma ressaca, do tamanho de um muro, alto. Mas desta vive e confessa-se que nem porco pecador, sujo de arrependimento de uma noite que não viveu. Levanta-se e encara-se por fim, tem várias feridas a pintarem-lhe os rosto, umas que rasgam, outras que descem, e sangue pisado, conquistado de uma batalha. O espelho está manchado e a luz insiste em não se mostrar, mas parece que nunca antes vira tão bem, a camisa às riscas azuis clara, que comprou numa tarde solarenga, lembro-me disso, está agora com gordas manchas vermelhas. Não é o ter feito mal, é não saber que mal foi, ou se foi mal sequer. Com a conchas da mão atira pedaços escassos de água, esfregando impulsivamente, sai, sai!Eu não fiz nada de mal...eu não fiz nada de mal...Sente a cara, e de repente vê que tem braços e tronco, comem-no aos poucos. Cada vez mais rápido, soltando gritos mudos, cada vez com mais força, que fiz eu? Que fiz eu? salta água e sangue sujando ainda mais o descomposto, não fui eu, grita e cai, soluçando em saliva e raiva. Levanta e olha à volta, reconforta-se com a linha onde está escrito: tu és bom Diogo, tu és bom. Não associa nada a nada. Despede-se sem olhar do quarto, sai com força gasta e bate a madeira. Olha para a solidão encerrada. Número 6.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
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