Acordamos ao lado de um corpo que nunca sentimos e sentimo-nos sujos.
O paladar palpita na bílis e no copo manchado no rebordo da mesa. Dois copos.houve festa.
Sentamo-nos e devemos estar alegres, porquê?perguntaste um dia quando ainda sorria e te via entre os pombos no jardim.porque é que temos de ser a criança que corre atrás do cachecol e não podemos ser o velho que espera até o escuro cair, sentado na pedra redonda, à espera de alguém para jogar uma partida de xadrez, que coma o cavalo ou seja morto pelo bispo.
A ouvir o silvo da paz ou a correr entre o fumo dos carros, nunca pude escolher porque nunca me sentei e caí.Talvez uma vez no escorrega, mas aí era pita, burra.
Acordamos ao lado da pessoa que nunca nos viu, já me fodeu, mas nunca me viu.Como é cinzento um dia de Primavera quando já não mostramos os dentes por tudo e por nada, a pensar sempre, era isto que querias quando te cortaram o cordão e berraste que nem animal perdido?Não sei se era isto mas é neste espelho que esfrego o cabelo e deslizo na pele pisada e fermentada.Desgosto. Só pode ser esse bicho que encanta a minha fábula.De capítulo em capítulo, como se a dor fosse um processo, sempre a mastigar calçada, da testa até à nuca, repetidas e sentidas vezes até a carne alertar, e vem a dor outra vez.
E esses cabrões que adoram o silêncio.Eu quero o odor de um autocarro cheio, de um encontrão rolante, numa escada de fatos e gravatas, quero as buzinas das pernas e das saias, quero o calor pestilento e peganhoso, quero.
Acordamos ao lado de quem pensámos ser o amor da nossa vida. E quando te perguntarem, amor de uma vida, de quem é a culpa da fome no mundo
do estado do país
dizes que a culpa é minha.
Afinal a culpa sempre foi
minha.
3 comentários:
esta maria tá de comer a cabeça...
dois copos é muito pouco...
foi uma festa a dois,dois copos chegam;)
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