Sala de máscaras
Copia e imita as serpentinas que rodopiam, caídas de um braço no ar. Faz os passos das quintas-feiras no meio de mil, está feliz vestida de rosa, cabelo apanhado e corpo delgado, fino, escorreito. O Carnaval deixa esconder caras mas é a única altura em que Joana pode mostrar a sua. Cigarros, cigarrilhas, cigarritos passam por ela, seguidos de um charuto militar, gangsters, vacas, empregadas de limpeza, um grupo de prisioneiros, com as correntes nos pés, polícias, enfermeiras. Já tem papel colado, ao cabelo e à boca, cospe e joga o cigarro aos lábios, anda com olhar pesado nos braços caídos, não pode queimar o seu tesouro. Muitas máscaras de cigarro, erguidas em esponja e cartolina, uns a consumirem-se a eles próprios, é cómico. O som treme todo o cilindro, samba, previsível, todos o tentam dançar, e alguns à passagem de Joana esboçam um ballet patético na tentativa de simpatia por parte dela - Têm apenas um sorriso agoniado -Um enorme palco à volta do grande cinzeiro surge à medida que se arrasta no meio dos batuques para tentar subir, uma mulher suada, com enorme coroa, e nenhuma roupa faz-se ouvir, protegida por um grotesco corpo de baile. Em cada momento, dez movimentos injectados por uma energia anormal que a faz dar a volta ao meio e colocá-la em todo o lado. Estou quase a fazer anos, lembra-se quando vê uma sósia de branco, mais cicatrizada e mais curvada, a vida ali já passou e vai passar por ela também num dia que não se grava. As finas sapatilhas mostram na palma dos pés as beatas que se juntam num fino solo, um morto tapete semi-aceso, não te queimes Joana, não te queimes. Os martelos apitam-lhe os passos fortes na cabeça, lembrando-lhe onde está, difícil esquecer quando um dos sete anões a apalpa e a Branca de Neve lhe lambe a face de cima a baixo. É um deleite ver freiras a fumar, o capuchinho vermelho a bufar um rolo de fumo, aqui são todos lobos maus, à espreita...homens das cavernas com malmequeres, marinheiros com espanholas, e na porta da casa de banho o Fidel Castro com a Marilyn Monroe, as mãos já besuntam as coxas e deixam-se ir abaixo com a luz nervosa destes acessos. Ás vezes perde-se um pouco no seu próprio ritmo quase como se o facto de não ter rumo a injectasse de angústia, e esse liquido visceral a fizesse abrandar, mas são lufadas de ar que se vão e volta a ela. Mãos no balcão, a vender a sua altura.
- Caipirinha. Uma. Forte
- É sempre um bom disfarce – diz o sexo do lado.
- Quem te disse que eu estou disfarçada? – tocando com o queixo no ombro e voltando a olhar em frente.
- E quem te disse que eu estou a falar de ti?
- Caipirinha. Uma. Forte
- É sempre um bom disfarce – diz o sexo do lado.
- Quem te disse que eu estou disfarçada? – tocando com o queixo no ombro e voltando a olhar em frente.
- E quem te disse que eu estou a falar de ti?
(Envoltos os dois em seu própio fumo)
Sorri com estranha confiança, já te vi em algum lado.
- Sou a Joana.
- Encantado, sou o Ricardo.
Sorri com estranha confiança, já te vi em algum lado.
- Sou a Joana.
- Encantado, sou o Ricardo.
1 comentário:
Não sei que diga. Estou para aqui parada, lavada em lágrimas, sem saber bem o que dizer.
Dá-me um autógrafo, por favor.
Enviar um comentário