quarta-feira, 18 de julho de 2007

Diogo VII

Lembra-se de um dia ter pensado que estar deprimido era acordar e os olhos doerem que nem duas ameixas podres. Era descansar e o sangue continuar a estar fora do prazo sem a saúde da segunda-feira. Lembra-se disso porque está num estado análogo, talvez seja isto o seu ser deprimido mas não restam dúvidas que este é o seu ser dorido.
Vê apenas branco horizontal, enquanto uns enormes olhos azuis o acolhem
- Está-me a ouvir? solta os dedos, e estala-os com força no eco da velocidade, cada vez mais perto, mais terrestre."Sabes a sangue."
- Pode-me dizer o seu nome? Qual? O da lista telefónica ou o que está estendido nesta maca?
- Diogo...
- Diogo, o senhor foi atropelado e fracturou o braço, apenas isso, podia ter sido bem pior.
Nunca esta frase o a animou, nem esta nem a outra: vais encontrar muitas situações assim ao longo da vida, usada quando o azar ou falta de ânimo nos acaba por roubar a linearidade da certeza. Como podemos ficar felizes se nos dizem que estamos perdidos, e que não é só desta vez, que será uma e outra, repetidamente ao longo do nosso caminho. Isso reconforta? Só se for um doido.
- O meu nome é Catarina e vou levá-lo até ao hospital e lé tratam do senhor num instante.
Realmente dói-lhe o braço, mas pensou que já vinha da noite.

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