quarta-feira, 18 de julho de 2007

Pedro VII

Vai estalando o metal nos carris enquanto o balanço intermitente dos estômagos e das luzes se escurece, numa sinfonia cansada, com notas do suor e da cidade. A voz gélida que anuncia as paragens transmite a geografia, na desorientação de cada suspiro que alimenta mais um dia, é um de cada vez, deve pensar o jornal que se abre solto ou o hamburger que se come amarrado a um pedaço de papel vegetal. Pedro deixa o fio andar solto de cadeira em cadeira, sentado, deixa-o ir com a maré e com o balanço [vomito sempre que ando de barco, sempre], o isco feito de olho e saudade percorre as profundezas de outros azuis, por vezes quase sem tempo, outras vezes agarra e trocam-se carícias nas retinas que se ancoram uma na outra. E fogem tímidos quando mordem com mais força. De ver um rosto parado, enquanto as portas se abrem, não de pele, mas sim papel, lambido nos azulejos, conta os dias desde o seu primeiro berro. Todas as caras bonitas de base e rímel, todas as pernas másculas são agora mais novas que ele, sente a idade. Longe os tempos em que o mundo era mais velho e ele catraio. Agora doem-lhe as costas de carregar com estas alegrias frescas que lhe entortam o coração. Antes de apitar e fechar, um pequeno corpo esgueira-se veloz no para o meio da gente fechada. Catarina és tu?

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